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  • Foto do escritorFlávia Ferrari

A violência como herança intrafamiliar

A violência intrafamiliar, e suas mais diversas formas de manifestação, tem sido um tema sobre o qual estamos constantemente voltando nossos olhares.


Obviamente, falar, pensar, estudar e analisar as violências, ainda que dentro do microuniverso da família, implica em considerar também os aspectos históricos e sociais envolvidos - especialmente aqueles ligados à raça, idade, gênero e relações de poder.


Muito tem se falado sobre as violências de um modo geral, seus nomes, diferenciações, possíveis impactos na subjetividade ou comportamento das pessoas.


Mesmo assim, há algo que nos pede um olhar ainda mais atento: quando a violência acontece no cotidiano das relações familiares, aquelas mais sutis, que chegam para “educar”, em especial a criança, como um tapa na mão, uma chinelada, o grito, os cantinhos do castigo, entre outras coisas; ou seja, quando ela está misturada, imbricada, com o afeto, o carinho, e o ato de cuidar.


Algumas vezes ela aparece ali, despretensiosamente, nessa nossa ânsia de PUNIR os comportamentos considerados inadequados. E assim ela vai fazendo parte dos dias, da dinâmica familiar, almoça e janta na mesa, a convidada que veio para ficar, e naturalmente vai ocupando seu espaço na família, de modo a se mostrar presente também nas novas relações que ali se formam. Como um presente mórbido ela passa de geração em geração.


O que temos visto em nossa prática clínica e social, é que os impactos causados pelas experiências vividas em situações onde a família se vale desse tipo de “cuidar/educar” são narrados de formas muito particulares, mas guardam em comum uma dor pungente que precisa, muitas vezes, ser legitimada e nomeada como uma experiência de violência.


O afeto, amor, carinho confundem, tornam as linhas e as tramas embaraçadas, parecem até uma coisa só!


Mergulhados nesse mar de memórias, as narrativas muitas vezes convergem para uma repetição desses padrões em outras relações, em outros núcleos familiares, no trabalho, nas amizades; alguns vezes sem, mas em outras com algum estranhamento (“precisa ser assim?”).


Bom, não cabe a nós terapeutas ditar a forma como aquela pessoa deve cuidar, amar ou educar, mas a pergunta que muitas vezes parece emergir desses mares profundos em que mergulhamos por algumas horas é “por que eu preciso punir, castigar? Existem outras formas de cuidado?”.


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