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  • Foto do escritorFlávia Ferrari

As experiências do cuidar: as lições mais valiosas são aprendidas a duras penas?

No texto anterior falamos sobre as dificuldades de se reconhecer a violência quando ela vem fantasiada de “cuidado”.


A palmada, a ameaça, o cantinho do castigo se apresentam como modos de educar, formar caráter, de transmitir valores. E caso não estejamos prontos para olhar com, no mínimo, estranheza para essa situação e para seus impactos na subjetividade de cada indivíduo, não conseguiremos pensar em alternativas, permaneceremos transmitindo essa violência para as próximas gerações – e aplicando-a também em outras relações.


O uso dessas práticas “corretivas” borra os limites entre amor e cuidado, entre escuta e respeito ao corpo/outro. Elas são capazes de ensinar que algumas relações, principalmente as afetivas, precisam ser hierarquizadas, e nelas os que mandam podem se valer a qualquer tempo da força física ou violência verbal, vencendo sempre o mais forte.


Elas propiciam a vivência de sentimentos muito contraditórios em relação às figuras de referência, gerando sensações de intenso medo e nervosismo, com os quais, muitas vezes, a criança não tem ainda desenvolvida a capacidade psíquica de lidar.


Para a criança, pode ficar a mensagem de que só é digna de amor quando se comporta dentro dos moldes considerados adequados por seus cuidadores (algo bastante contraditório quando pensamos no discurso do adulto como alguém que “ama incondicionalmente”); de que é aceitável, em outros contextos, valer-se também do uso da violência para alcançar seus objetivos.


Precisamos abandonar a concepção que liga aprendizagem à dor/sofrimento, essa ideia fantasiosa de que “as lições mais valiosas são aprendidas a duras penas”, como se o eterno sofrer fizesse de nós seres mais fortes e sábios, mais capazes de lidar com a vida.


Nossa aposta é na possibilidade de educar/cuidar lançando mão de alternativas mais democráticas que considerem a criança como sujeito dentro da relação, levando em consideração seus saberes e estágios de desenvolvimento, com o objetivo de formar indivíduos conscientes de suas emoções e limites, com ferramentas psíquicas para lidar com as questões cotidianas e adversidades da vida de forma não violenta, respeitosa e horizontal.

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