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  • Foto do escritorFlávia Ferrari

"O trabalho é minha segunda família!"

Temos falado da indissociabilidade entre adoecimento psíquico e relações sociais, nesta postagem pretendemos trazer uma reflexão sobre como as condições impostas pelo capitalismo, em suas manifestações do atual período de acumulação flexível, criam condições propícias ao adoecimento.


As mudanças no processo de produção capitalista são constantes e cíclicas, passam por momentos de ascensão e declínio, temos visto na contemporaneidade a radicalização desse modelo, pautado na lógica neoliberal, inaugurando uma nova forma de precarização: o trabalho flexível, marcado pela redução salarial, competitividade, mudanças na dinâmica do tempo social, inovação tecnológica – e exigência de uma “multifuncionalidade” do empregado, jornada móvel, exigências de produtividade, precarização do emprego (em tempo parcial, terceirizações, informalidade, desemprego), crise do movimento sindical e rompimento dos laços de solidariedade.


Essa precarização do trabalho é um processo multidimensional de institucionalização da instabilidade, cuja concretização pode ser vista no Brasil com a reforma trabalhista de 2017 e previdenciária de 2019. Aqui, em especial, esse processo incide de maneira ainda mais perversa quando ampliamos o olhar e observamos aspectos ligados a gênero, raça e classe social. Seus efeitos impactam diretamente a saúde e condicionam processos de subjetivação (alguns autores chamam de “subjetividade precarizada” – conforme aponta Melissa Rodrigues de Almeida em sua tese de doutorado “A formação social dos transtornos do humor”, 2018), e o sofrimento psíquico.


Como mecanismos de gestão do trabalho, que fomentam ainda mais os processos de adoecimento, temos, por exemplo: o envolvimento emocional do trabalhador com a empresa (“vestir a camisa”, “o trabalho é minha segunda família”) com objetivo de internalização do controle e das regras; e o assédio moral, expondo os trabalhadores a situações humilhantes repetidas e prolongadas.


Considerando o tempo que os indivíduos dedicam à atividade laboral, sua centralidade na vida, e as novas formas de gestão dessas subjetividades dentro do espaço ocupacional, qualquer processo de adoecimento psíquico deve ser analisado, também, sobre o prisma das relações de trabalho. Os profissionais que atendem pessoas em sofrimento psíquico devem sempre levantar o questionamento a respeito da ocupação e das condições de trabalho daquele indivíduo.




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